quarta-feira, 1 de setembro de 2010

- Conto Para cima

  • É grande, só que vale a pena lê *-* conto que eu li na abertura da minha ultima aula de teatro!



Para cima
Vivemos correndo
Sem tempo para olhar para trás
E porque teríamos a necessidade de viver de passado
se temos todo um futuro

O dia era iluminado de luzes artificiais com pessoas andando de branco e preto, em um quarto pequeno sem janelas, só com uma porta pequena, cinzenta, quase sempre esquecida pelos moradores. Assim era a vida de Clarice, que vivia brincando com seu vestido preto com borboletas bordadas de branco com seus cabelos loiros, que a cor poderia ser definida como fosca e morta, seus olhos quase em um verde apagado em um corpo pequeno e frágil, na frente dos olhos uma venda estava fixada na frente, era uma venda fina que qualquer pessoa que pudesse olhar diretamente para menina poderia enxergar os olhos dela através do pedaço de pano.

Olhos fechados, sempre fechados, tanto que por vezes não faria diferencia estar acordada ou dormindo.

Vendada para o mundo ia Clarice e a sua família, que não admitiam viver na mesma escuridão da filha, só que estavam todos lá. Enquanto a menina ia, seus dias iam passando sempre iguais, balançando a cabeça quando requisitada respondendo sim ou não as perguntas tão marcadas com respostas sopradas ao pé do ouvido, escrito nas mãos, paredes e até no chão.

Clarice não cobiçava o sol, tão pouco a lua ou as estrelas, duvido até que ela as conhecia e se conhecia não prestava atenção, passando assim reta e absorvida pela a sua escuridão, de olhos fechados, em sua cega obediência de apenas ver o que os outros desejam.

Um dia andando em sua vida desprovida de cor, um chamado de uma voz que jamais ouvira chamou a sua atenção.

Malta estava andando, olhando o céu, a grama e as flores, quando viu uma menina andando, logo de cara percebeu algo diferente e o menino sorrindo já foi perguntar:

- O que pensa menina?

A voz que rompeu o silêncio e instigava uma resposta que não poderia ser feita pelo o sim ou não, fez gelar a pobre menina, o menino se aproximou ainda mais, andando de forma leve para a grama tão verde e tocou levemente a barriga dela, com um dos dedos.

- O que sente menina?

Silêncio.

Malta respirou fundo, não entendia porque ela não o respondia.
Olhou para o céu procurando inspiração.

- Diga-me o que sente, o que pensa, fale, por favor.

Clarice respondeu como quem não diz:

- Eu nada penso, nada sinto, pensam e sentem por mim, apenas isso.
Abriu um sorriso tolo e estranho, por tal revelação.

Malta não pode acreditar nas palavras, só olhava para a menina, não conseguia entender essa situação tão obscura daquela criança, com as duas mãos segurou o rosto da menina e retirou a venda dos olhos dela, mesmo assim ela os manteve cerrado.

- Olhe para mim, olhe... O rosto de Malta queimava queria ajudar a menina apenas não sabia como. – pense, pense, pense no sol, sinta o calor, pense na água, sinta a sede, pense nas pessoas, sinta o amor por elas, pense nas coisas boas da vida, e sinta toda a alegria que elas podem lhe trazer, pense, pense, sinta, sinta e pense, apenas!

Clarice sentiu um desconforto com tais palavras.
Nada queria admitir por não saber o que era realmente sentir por si só.

- Eu nada sinto, eu nada penso, não nasci para essas coisas.

Para o desespero de Malta, Clarice nada parecia ter escutado, o seu rosto queimava ainda mais, seu desespero aumentava e o seu peito começava a doer.

- Que bobeira menina, que bobeira a sua!

As palavras foram quase que sussurradas, com essa situação toda Malta sentia uma dor, por não pode ajudar e o todo esse sofrimento já não tinha tamanho, pareceria bobo, infantil, para algumas pessoas, para o menino não pode fazer outra coisa, se sentou no chão e se colocou a chorar,
Lágrimas rolaram e o choro estragou o sorriso do menino e o único som que restou foram as das lágrimas.

Para Clarice que se sentia confusa no meio de todas as palavras do menino, sofria internamente, o coração já esquecido queimava, respirou fundo duas vezes, em um misto de curiosidade e coragem começou a tomar conta dela, o que teria acontecido com o menino? Quem era esse menino?

- Ainda está ai menino?

A voz chorosa saiu entre pequenos soluços

- Sim, estou

Voltaram a ficar em silencio, algo que era tão novo em Clarice, a curiosidade dentro dela crescia, sua coragem ia lentamente aumentando, a fera presa dentro do peito dela gritava pronta para sair, então por um milagre os olhos  se abriram, mudaram de tonalidade, a luz era forte demais, pareciam queimar com um fogo invisível lutou contra a sensação e tentou encarar todas as cores que pareciam tão infinitas, parecia até mentira para ela, o mundo não poderia ser tão belo e tão dolorido, não poderia ser, não, não poderia, só que ele era e é.

Andou alguns passos perdidos, tortos entre suas sandálias de trançados, com seu vestido sendo tocado delicadamente pelo vento, procurava Malta. Olhou para o chão viu alguém sentado não hesitou e abraçou o garoto que chorava e levou tal susto que ele que não conseguia falar, a menina também começara a chorar.

- Eu sinto, eu penso.

Disse ela chorando como uma criança recém-nascida que vem para a sua nova vida, sentindo todas as dores que essa vida pode causar, com apenas uma certeza, a certeza que a vida é sempre muito mais do que imaginamos, apenas temos que aprender a olhar por todos os prismas existentes e nos conformarmos com o pouco.

 No mundo existem muitas Clarices e Maltas
Só não podemos esperar a vida inteira por um
Malta para nos fazer pensar, sentir, enfim existir
. 

Ariane Castro 



(Editado)

8 comentários:

Hannah disse...

Malta não vai estar lá para te abrir os olhos... temos que ter um por dentro, saber ser nosso próprio Malta:
"se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo".
Feliz ou infelizmente, só quem pode fazer é a gente. De olhos fechados, nem percebemos os Maltas por aí.
Clarice:
"[...]ela se esquece que não se pode ter da vida paz e força".

seu texto está lindo, como sempre, Ari!
ps: eu te amo.

Anônimo disse...

De todas que você já escreveu, este é o mais perfeito. Parabéns pelo o seu trabalho amor.

Érica Ferro disse...

O triste é se ela não conseguisse se compadecer do choro do outro. Ainda bem que conseguiu!

=**

Unknown disse...

Parabéns embora seja um conto como dizes ,acredito que muitos se reconheceram no mesmo e isso o torna mas real do que qualquer conto...
gostei muito !
Beijos sua eterna Mãe' (Manú)

Drop disse...

Muito legal como eu sempre digo sou uma grande fã sua ... como sempre continua perfeito mas uma vez parabens vc continua uma otima escritora s2

Atchim disse...

achei tão lindo. e o seu estilo de escrever é tão especial, fofo e tal. amei a história <33 *-*

Cah. disse...

adorei, vc escreve mto! perfeito de mais

Evelyn Oliveira disse...

nossa... fazia tempo q neu n passva por aqui... o blog está lindo...

Espero q esteja bem querida!
Um forte abraço, bom fim de semana!
; )